quarta-feira, 8 de abril de 2015

Poesia de Ninguém




Ser poeta?
Longe de mim tal agonia!
Prefiro ser Zé,
E juntar o resto das palavras do almoço de ontem;
Bagunçar a melodia ensaiada no suor;
Arruinar a lembrança de rima guardada pra mais tarde...
Ser poeta?!
Eu não.

Canção das Dores Rimada

Inspirações total e dependentes 
Jogadas e pagas a preço de sofrer 
Versos egoístas implorando por lágrimas 
Abraçando cada dia cinza que possas lembrar 
Vivo de me entregar a esses pobres miseráveis 
Que planejam aparecer ao passar de hora 
Enroscado em minha cabeça 
Como carne presa no dente 
Sobrevivo deles 
Cada tempo mal resolvido 
Cada debater de razão 
Mendigando palavras que não sei escrever 
Me fazendo escrava desse nobre mau 
Que de tanto afrontar Neruda 
O sufocou em rimas ilusórias 
Podia tornar-me um homem normal 
Pagão no mundo do amor 
E optar por meus versos pobres 
Rimados na facilidade de qualquer infinitivo 
Mas estou fadado a carregar minha cruz sentimental 
E ressuscitar a cada ponto final 
"Sentimentos bons não ganham plateia" 
Sufocar-se na mais completa solidão 
É triste, é trágico, é poético

terça-feira, 31 de março de 2015

SETE E MEIA



Esse homem que anda devagar,
Insiste em ver o céu na poça,
Entristece a cidade, como quem morreu anteontem.
Se hospeda em uma face velha,
Descansa na sombra de suas lembranças,
E acredita, no fundo do peito,
Que vida essa, tão cruel e cansada,
Ainda vai surpreender.
O cinza do carro que passou
Trouxe aquele calor que te faz agonizar,
Dessas agonias pálida de viver.
Aquela meia gastas, que se molha com o corpo
Massageia o pé de esperança,
E tua esperança é o que te faz continuar.
Que cansaço dessa rua...
Que desgasto desse homem...
Que ainda vai
A pé,
Na fé.
Apertando o passo e desconstruindo o compasso.
Um passo a frente ou dois pro lado,
Tanto faz se for ir...
Sonha, caminha e sonha,
Que já é sete e meia horas,
E seu patrão já chegou.

sexta-feira, 6 de fevereiro de 2015

Recomeço a vida

Engaveto meus poemas
Guardo minha ânsia
Escondo minhas fraquezas
Renego meus dilemas

Exagero os meus medos
Persigo meus sonhos
Controlo minhas loucuras
Estalos meus dedos

Torço minha memoria
Retorço minhas vergonhas
Engulo meu fracasso
Rio minha glória

Adio minha ida
Tardio a recompensa
Escolho minhas voltas

Recomeço a minha vida